Bibelot

A pior coisa que pode acontecer ao Natal de qualquer um é aquilo que nos acontece mesmo: alguém decidiu redecorar as nossas estantes e prateleiras ofertando-nos com… Um bibelot.

O bibelot é aquele objecto pretensamente de decorativo que nos podem oferecer no Natal. O Natal é assim um salvo conduto para que tudo o que há nas lojas e ninguém ainda tinha comprado entre lá em casa.

O bibelot é algo que se usa para tentar compor uma irremediável má escolha em decoração, numa tentativa de dar sentido a uma composição falhada, criando uma cacofonia visual onde não pode haver nenhum espaço vazio.

A desculpa de que o bibelot é um objecto de decoração, leva-me a concluir que mais decorativo só o cérebro de quem os oferece.

Quando comprei os meus moveis e prateleiras, era para lhes por as minhas coisas em cima. Aquelas coisas a que eu dou uso e não objectos de pseudo-contemplação.

Faz-me tanta falta um bibelot nos meus moveis como faz falta um gay casado com uma pessoa de outro sexo.

Bibelot é mais gay que casamentos de pessoas do mesmo sexo. É gay no sentido que é preciso ser-se um para gostar de um.

Não que eu tenha alguma coisa contra casamentos de pessoas do mesmo sexo ou gays, mas é que eu nem participo de um nem sou do outro.

Pior mesmo que bibelot, só mesmo bibelot com aspirações a objecto de arte. Um objecto de arte ganha em geral valor de mercado com o passar do tempo. O bibelot ganha pó.

O bibelot aparece sempre por trás de uma desculpa do tipo: “Não sabia bem o que oferecer…” ou “É só uma lembrançazinha…”.

O momento da oferta do bibelot transforma-se em si mesmo num paradoxo: alguém dá algo a alguém com o objectivo desse alguém saber que foi lembrado, só para que esse alguém deseje por isso ter sido esquecido.

Este Natal salvem uma estante: não ofereçam bibelots.

Aos Deputados da Nação

Já é mau que chegue que os deputados batam com a mão na bancada enquanto um Ministro fala.

Já é deselegante que baste que façam cenas de menino de escola discutindo com o Presidente da Assembleia da Republica se o que estão a fazer é ou não regimental.

Já não há nada mais que me entristeça para além de um Ministro fazer corninhos para um deputado a meio da intervenção de outro.

Já é feio um deputado chamar nomes a outro enquanto um terceiro discursa e terminarem com promessas de “vamos lá para fora”.

Já está errado uns deputados irem fazendo claque com “muito bem!” e “assim mesmo!” sempre que discursa o colega de bancada, enquanto os das bancadas opostas respondem com indignados “xiiii!” ou “mentira!”.

Já não fica bem a deputadas de uma certa idade chamar palhaço a um deputado de outra bancada.

Elevar isto tudo ao estatuto de Regimento da Assembleia da Republica ao afirmá-lo como sendo “bocas regimentais” é passar dos limites.

Mas aquilo é o quê?! Uma praça do peixe?! Uma sala de sexo ao vivo?!

Se a conduta dos representantes do povo nada tem a ver com o estatuto que se lhes atribuíu, só estamos a justificar a mudança de regime.

Tenham juízo.

Portem-se educadamente.

E não dêem razão a ninguém para assumir um poder que não é dele por falhas vossas.