A lengalenga do governo

A narrativa deste governo é simples. Não é verdade, mas parece plausível. É é fácil de repetir. Funciona como uma lengalenga infantil. Preenche o espaço e adormece as ideias. É repetida ad nauseum.

  1. O governo anterior levou o país à bancarrota.
  2. Não há dinheiro.
  3. Nós recuperámos o país.
  4. Se não votarem em nós, a dose é repetida.

A lengalenga é repetida por todos os meios. A lengalenga suspende o raciocínio. A lengalenga não questiona. A lengalenga parece inofensiva. A lengalenga enxovalha quem discorda. A lengalenga agride quem foi sacrificado. A lengalenga não admite contraditório, diz como tudo aconteceu e vai voltar a acontecer.

Vamos aos factos:

  • Será que o governo anterior levou mesmo o país à bancarrota?
  • Não houve uma crise nos mercados financeiros que se espalhou dos Estados Unidos da América aos bancos europeus?
  • E não houve uma reação da Comissão Europeia e do Conselho Europeu a pedir aos governos que investissem e recuperassem esses bancos?
  • E não disparou o preço do petróleo?

Não ousem questionar a narrativa abertamente ou a resposta vem pronta e breve:

  1. O governo anterior levou o país à bancarrota.
  2. Não há dinheiro.
  3. Nós recuperámos o país.
  4. Se não votarem em nós, a dose é repetida.

Por mim, chega. Chegou a altura de eliminar a lengalenga deste governo.

Proponho uma nova lengalenga. Uma lengalenga que vou contrapor vezes sem conta. Uma lengalenga que me vai libertar da narrativa deste governo. Uma lengalenga que me alertará para cada mentira dita, para cada promessa falhada, para cada garantia de trapalhada. Uma lengalenga que quero ver desaparecer em breve, mas que não posso ainda deixar de repetir até que deixe de haver razões para ela existir.

A minha lengalenga vai desaparecer com um novo governo e com novas políticas.

1. O país está pior.
2. As pessoas não estão melhor.
3. A economia não recuperou.
4. O desemprego aumentou.
5. A dívida pública subiu.
5. O governo falhou.
6. Não quero repetir mais esta dose.

(Texto de opinião publicado no Acção Socialista – 28 de julho de 2015)