Ordenados e outros fados.

Passamos pelos dias mais tristes da nossa vida, isto pelo que me é dado a conhecer pelas pessoas com quem falo.

No dia 23 de Maio passou um peça no Jornal do canal SIC que comparava a vida económica de um casal em que ele era bancário português com um outro da mesma profissão, mas exercendo na Bélgica.

Já todos sabíamos que a diferença de ordenados era abismal, o que nunca tinha acontecido era esfregarem-nos com a dita na cara.

Assim ficam no entanto por referir outras diferenças mais gritantes, como por exemplo que no banco belga o funcionário não é olhado de lado por sair e entrar no devido horário, enquanto cá no nosso jardim à beira mar plantado, graças à inoperância da fiscalização geral de trabalho ou do tom cinzento em que a lei está escrita nos Diários da República, essa é a menor preocupação do nosso querido bancário.

Primeiro ele tem de estar preocupado em não perder a posição que atingiu, baixando-se por isso tanto que até se lhe vê o cu, perdoem-me o francês.

Ele tem como exemplo sempre presente todos os tarefeiros trabalhando com os recibos verdes, táctica de descartar para o funcionário a obrigação de contribuir para o esforço social encontrada pelas empresas.

Mas não pensem que o bicho papão é a iniciativa privada, pois não fosse este status quo criado pelos próprios organismos estatais, não estariamos nesta rebaldaria.

A intenção da SIC até era boa, mas mesmo assim a pilula foi pintada de cor-de-rosa uma vez que nem todas as pessoas ganham o que ganha um bancário em Portugal.

Isto para não falar nas parencenças extraordinárias que a descrição do dito casal português tinha com um qualquer casal de um folhetim indiano em que ele resignado mostra com orgulho o fabuloso pinguim de loiça que tem em cima do frigorifico e ela vai cobrindo as pobrezas com que mobila a casa com maravilhosos lavoures bordados nos poucos momentos livres que tem.

Esqueceu-se tambem a peça da SIC de falar no famoso ordenado minimo nacional e dos fabulosos aumentos de 2,5% do pacote social. Encontramo-nos orgulhosamente sós na nossa política de trabalho.

Enchemos os nossos canais de televisão com Futebol, taça disto e campeonato daquilo, Papa em fátima e em troca do fado a bela da telenovela brasileira de manhã à noite.

Eu não sou tão velho para me lembrar dos tempos da outra senhora, mas os mais velhos da minha família tiveram a preocupação de me lembrar de ditos como o famoso “”Fado, futebol e Fátima”” que caracterizava o antigo regime.

As parecenças são cada vez maiores.

No jornal do canal estatal uma peça de reportagem que nunca mostou a Directora do Museu Nacional das Marionetas a fazer uma dieta de protesto (Não que ela não estivesse precisadinha) pois as entidades responsaveis não se dignavam a pagar a manuntenção do que criaram, não por os reporteres não terem estado presentes, mas sim por uma incapacidade técnica.

Os canais privados tiveram o cuidado de repetir a dita peça enquanto ao mesmo tempo no canal estatal se mostrava o Museu dos Coches em trabalhos de recuperação ilustrando a dita peça com imagens do tempo de antigo regime, afávelmente narrada por um qualquer locutor com problemas respiratórios nasais, que descrevia a alegria das familias portuguesas que visitavam o Museu das CARROÇAS!

Possivelmente num inquérito aprofundado saberemos que uma cegonha chocou com a cassete da RTP, uma daquelas violentas que ataca os postes de alta tensão em protesto pelo número reduzído de nascimentos que coloca em perigo os seus postos de trabalho.

E fiquem sabendo que segundo profecia de António Guterres, “”A gasolina não vai aumentar!””. Mais um dos dogmas do governos actual. Não sei no que acreditar primeiro, se na história da gasolina ou na da cegonha.