Cloud computing como alteração do equilíbrio de poder

Querem-nos fazer crer que cloud computing é como utilizar a rede eléctrica ou telefónica, mas não é. Nos casos das redes, estes transportam-nos algo para nos entregar. É acima de tudo transitório e o risco associado é temporário. No cloud computing nós confiamos o que é nosso por muito mais tempo.

A relação de poder fica desequilibrada a favor de quem presta o serviço quando lhe entregamos a nossa informação para guardar na sua nuvem de computação (cloud computing). Podem ouvir aqui um senhor de óculos e modos estranhos a explicar como funciona ou aqui o senhor da Google a vender o peixe dele.

Eu uso as aplicações disponíveis na Internet que chegue. Aliás, considero-me mesmo um caso clinico de vicio. Basta seguirem-me no Twitter ou no Linkedin para saberem isso, mas na realidade nada do que lá coloco é essencial ao meu dia a dia e à minha vida pessoal. Não passam de inflamações do meu próprio egocentrismo que partilho na comunicação com outros. Não as entregar desapaixonadamente ao etér seria como proibir as pessoas com quem falo de reterem o que lhes digo.

No caso das empresas e instituições o caso muda de figura. Não se tratam de meras conversas ou piropos inflamatórios, mas da garantia de direitos e obrigações que passam a ser atribuídos a outros.

Como pilares do cloud computing para empresas temos o Software como Serviço (SaaS) e o Hardware como serviço (HaaS). Os dados residem no prestador de serviços conforme o modelo de contratação que ele próprio idealiza e com a força negocial que a concentração dos seus clientes lhe irá dar.  Estas empresas prestadoras de serviços não conseguem hoje esta alavanca negocial sem a mudança que nos propõem. O modelo está imaginado para alterar a concentração, garantindo condições negociais muito superiores a quem prestar o serviço.

A Internet funciona segundo o conceito de self-service. Em relação a esta realidade é de esperar que a sua evolução tenha um sentido mais alargado de transformação da sociedade, promovendo a participação e a inovação, nomeadamente de cidadãos e de pequenas empresas, sendo natural imaginar a criação de novos mecanismos de poder e de relacionamento entre o Estado, a Sociedade Civil e as Empresas.” por Pedro Leite Fragoso via INC: Futuro, Especulações

Enquanto esta afirmação futurista de 1998 é uma melhoria para as pessoas singulares, deviamos impedir que fosse aplicável às instituições do estado e outras pessoas colectivas pela conjectura com que remata: “sendo natural imaginar a criação de novos mecanismos de poder e de relacionamento entre o Estado, a Sociedade Civil e as Empresas.

A realidade é que para o comum dos mortais, a pessoa singular, confiar as suas fotos, endereços e ideias à rede não é realmente problemático. Se perder o acesso, a vida continua pois eram mesmo do seu computador que elas estavam a sair. Se não reteve um backup, deveria tê-lo feito.

Para as empresas o caso muda de figura. Uma falha de um concentrador destes e pode parar um sector inteiro. Veja-se o exemplo dos grandes prestadores que estão a nascer para suportar a contratação pública em plataforma electrónica e garantir a tempo o cumprimento do que é pretendido pelo governo. O que acontece se pararem os concursos públicos logo agora que vamos precisar de mais investimento do estado e que este o faça em pequenas porções e de forma distribuída?

Os spin doctors da industria de sistemas e tecnologias de informação querem-nos fazer crer mais uma vez que encontraram a panaceia, mas esqueceram-se de nos ler da bula os efeitos secundários e contra-indicações. John C. Dvorak enunciava aqui já em 2008 o que de mal havia no Cloud Computing.

Que não se substitua a frieza de quem gere negócios e administra instituições pelo entusiasmo histérico com que nos entregámos à rede social da Internet.

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