Primeira vez

A minha primeira experiência sexual nada teve a ver com as que para aí se descrevem nos romances de cordel.

Pensando bem, nos romances de cordel, nunca é a primeira experiência do homem, mas sempre da mulher, como se os homens, por não terem hímen, nascessem já com toda a experiência carnal, conhecedores do felatio e sabedores do cuninlingus.

Imaginam as virgens, talvez, que os pais, mentores iniciáticos do sexo masculino, levam os seus filhos a antros de despudor, onde, com o auxílio de uma qualquer concubina de ocasião, ensinam os seus filhos na arte de pular para toda a cueca.

Na realidade foi Eva quem incitou: “”Deixa de ser menino da mamã e dá-me lá uma dentadinha.”” E vejam no que deu.

Talvez nunca tivesse existido a maçã e os autores da bíblia para não começarem a escrever logo barbaridades no primeiro capítulo da humanidade, tivessem substituído a dentada nas carnes de Eva por uma inocente maçã, mas isso não explicaria a referência à sabedoria, pois que eu cá pouco ou nada aprendi.

Voltando às ditas virgens, entregam-se em sacrifício aos seus jovens amados, que tal como elas, de experiência só têm a de estarem todos cagados (De medo, claro).

Pois a minha primeira experiência foi, acima de tudo, algo de memorável, não pelo seu significado, mas pela sucessão de acontecimentos estranhos que se foram dando de forma incontrolável, enquanto às mãos de duas pequenas mais experientes, servi de brinquedo durante um bom bocado.

Embora noutros sítios a história dos ritos iniciáticos masculinos até possa ser verdade, no Algarve, onde passei a minha infância e amanheci na minha puberdade, existe um tipo de visitante turístico a que é dado o nome de bifas, feminino de bifes.

Talvez a geração anterior as apelidasse com mais correcção ao chamar-lhes Camones, mas nada disso alterou a verdadeira essência deste turismo algarvio, onde grupos de jovens estrangeiras procuram a companhia, inocente ou não, de rapazes algarvios bronzeados com a sabedoria de outros verões.

Com algum bronze na pele e a inexperiência de uma virgem, levei os meus intentos a bom porto quando consegui encantar uma criatura belga elegante e de corpo bem exercitado. Corria os 100 metros rasos sem um aí e em tempo recorde.

Ela dizia “”Embrace moi.”” e eu, praguejando pelas aulas de francês a que tinha faltado, abraçava-a enquanto ela se ria, deixando-me ignorante de que o que ela queria dizer era “”Beija-me.””

Não tardou até que uma bela manhã a fosse visitar a casa do meu amigo Paulo Bolacha onde ela e “”sa copine”” estavam a passar as férias.

Descrédula da minha virgindade, pretendeu a espevitada menina partilhar comigo da sua experiência.

Acedi em partilhar, mas contrariei-lhe o capricho de pretender manter uns boxers que ela vestia para dormir, retirando-lhos enquanto pensava que talvez não devesse estar a fazer tudo bem, e como seria que ela iria avaliar a minha actuação, e se o meu era grande que chegasse e outras dúvidas de um qualquer homem de meia idade.

Foi-se a bela moçoila para ali a retorcendo, um gemido após o outro, enquanto eu tentava dar o meu melhor, sentido que talvez não fosse bem aquilo ou que a amiga dela que estava no outro quarto poderia entrar em qualquer momento.

“”Deu-se então o momento em que os corpos entrelaçados gemeram em conjunto””, e eu agradeci a providência da borrachinha de que me fazia acompanhar diariamente à já algum tempo, na esperança que o dia da primeira experiência chegasse ou que uma criança me pedisse uma balão para brincar.

Mas ao contrário das velhas barbatanas de borracha que ano após ano perdiam a elasticidade até ficarem ressequidas e quebrarem, durou a bela da borrachinha durante toda a violência do momento, ficando no entanto o característico cheiro a borracha no ar.

Assim, após satisfeito o público, caiu o pano, e os actores, eu a gerir a informação agregada do momento, ela a pensar que a minha apatia poderia ser sinal de um acidente vascular cerebral. Eu ainda a tentar ver se tinha feito os passos todos do bailado, ela entretida a avaliar se eu iria desmaiar.

A minha apatia, confesso, vinha da felicidade da descoberta, da estranheza do momento e do significado pouco moral do acto consumado sem sentido.

Ela, decidida que a minha apatia era preocupante, levou-me até ao quarto onde estava a sua “”copine”” e indicou-me uma cadeira, acendeu-me um cigarro e mandou-me fumar enquanto ambas me observavam divertidas a fingir que fumava e a pensar como é que haveria de reagir.

Aparentemente a amiga sabia de tudo. Já ninguém guarda um segredo.

A manhã arrastou-se suavemente até à tarde, misturando-se com ela nas suas actividades… Mas isso agora são outras histórias, e não seria a “”Primeira vez””.

Esta história não têm moral por relatar uma actividade que se considera amoral.

Ninguém casou, não houve filhos e não viveram no maior castelo do reino, mas eu fui feliz para sempre.