Mãe, dá-me euros!

Cada nota que observo, mais me dá a sensação que acordei por engano no estrangeiro, em alguma ex-república soviética com o nome acabado em “”ão””. A causa disto é dos caracteres cirílicos e das ilustrações fantásticas.

Para onde foi o nosso criativo Bocage? E o cobardolas do Pessoa? Onde foram imprimir as faces dos nossos navegadores?

O nosso escudo era tão enganador como elogios de mãe que acha sempre que o seu filho é lindo.

Tivemos bancos que se recusaram a trocar moedas e moedas trocadas nos trocos, e isto tudo à conta do Euro.

Sim, porque dantes não haviam bancos a cobrarem taxas indevidas e lojistas trafulhentos a darem mal os trocos. Isso era outras realidade, tipo Quinta dimensão””:

“”Você acordou num país onde a moeda não é sua, o governo não governa e a justiça está a saque!””

Este cenário era impossível de ter acontecido em Portugal.

Na locução das ondas de rádio, as vozes refazem-se em piropos e opiniões sobre o Euro.

Há os que concordam e os que não queriam, mas todos dizem algo:

“”Então o que acha da nova moeda, minha senhora?”” – interpela o jornalista de 15 anos.

“”Isso para mim é uma grande confusão. Eu cá vou sempre usar os escudos.”” – responde o reformado refilão. Engano seu, pois que este mês a reforma vai-lhe parecer ainda menor pela conversão do seu valor em Euros.

Corte de Cabelo

Quando era muito novo, e vivia ainda em Lisboa, num modesto apartamento, acompanhado pelos meus pais e a minha irmã mais velha, apercebi-me que o mundo estava cheio de mulheres dominadoras sequiosas de poder.

Não passava um dia em que a minha irmã e a sua amiguinha não me obrigassem a comer as suas sopas de caldo-verde, com pedaços da melhor relva e regada com a melhor lama. Uma visão pavorosa.

Mas isto não é nada. Contra minha vontade, e que isto fique bem acente, por várias vezes me vestiam com as roupas da bonecas e me passeavam no carrinho da ditas.

Numa certa tarde em que me confiaram às garras da desvairada da minha irmã, ela tratou de me usar para experiementar a sua vocação cabeleireira de 4 anos, inovando com o meu parco cabelo num corte digno dos maiores defensores do cubismo hermético.

A dominação estava sempre presente.

A minha mãe obrigava-me a comer ou a ir deitar-me às 9:30 sem sequer poder ver a sessão da noite na televisão. A mim! Um jovem de 3 anos.

O mundo está cheio de injustiças.

E a gata lá de casa que o diga, pois quando não era o menino a puxar-lhe o rabo, era a menina. Isto para não falar que no dia do corte cubista, em que a gata teve direito a ficar sem bigodes.