A esquerda, a direita e o mexilhão

Comecei a seguir os bebedores do Vodka Atónito onde alguém com o pseudónimo de Little Bastard pergunta e com alguma justificação se “Num momento em que o PS anda a pedinchar ajuda do PSD para aprovar o Orçamento, será descabido lembrar que, teoricamente há uma maioria de “Esquerda” no Parlamento?

Teoricamente e na prática aquela esquerda não é toda a mesma.

Chamar esquerda a todos os que não queiram assumir tiques de defesa dos empresário dá destas generalizações. Talvez fosse bom lembrar o manifesto inicial do PPD-PSD que defendia os valores do Socialismo. O Social está lá, embora muitos militantes daquele partido finjam que não.

Chamar esquerda a todos os que tenham os tiques de defender os proletariado contra a ganância do patronato também não deveria ser marca de esquerda, mas de populismo. Dos lados do Bloco e Comunistas ainda se defende que a culpa é dos “rrricosss e poderrossssos”. Desses mesmos lados estão pessoas, mais abertamente no Bloco, que acham que o mundo é como era dantes em que um país se podia endividar sem que isso tivesse impacto ou consequência, e o equilíbrio das contas publicas não passava de um problema de capitalistas corruptos.

No governo está um partido que tal como o PSD nunca foi muito dado a defender extremismos. Por isso, não. Não temos uma maioria de esquerda. Temos a esquerda, a direita e ao centro o mexilhão.

A clivagem que se nota agora entre os mexilhões é própria de quem está a tentar definir uma posição que ajude o eleitorado a definir-se.

Depois das eleições passa-lhes.

O dilema de Manuela Ferreira Leite

Manuela Ferreia Leite, Lider do Partido Social Democrático

Estão na Internet uma petição, um site e uma discussão no Twitter que propõem o nome do Professor Marcelo Rebelo de Sousa para o papel que ele destinava ao Pedro Passos Coelho. Este movimento online já teve os seus reflexos em blogs de jornalistas acreditados.

Aguarda-se que Manuela Ferreira Leite apresente a decisão do seu partido e só depois se poderá saber que influência poderão ter outras iniciativas como esta.

A líder do Partido Social Democrático, Manuela Ferreira Leite, têm entre mãos aquela que pode ser a decisão que definirá o seu futuro como Presidente deste partido.

Será realmente a primeira decisão que têm de tomar em termos partidários e que poderá redefinir o rumo dos acontecimentos para o PSD.

Á sua frente tem como adversários:

  • O Partido Socialista que está galvanizado em torno do seu líder, líder que faz questão de mesmo em campanha pelas Europeias, dar destaque a José Socrates, mas que apresenta um candidato realmente de esquerda com o ex-militante do PCP;
  • O Bloco de Esquerda com dois homens que construíram a sua posição rodeados pelos descontentes, e todos sabemos como são cada vez mais em Portugal;
  • O Partido Comunista, que ainda não apresentou a sua lista, mas que como sempre contará com os seus fieis militantes e apoiantes, que pouco se vão desviando para a concorrência;
  • O CDS-Partido Popular que se bate pelos descontentes em concorrência directa com o Bloco de Esquerda, debita mais medidas por minuto que o Bloco de Esquerda, mas sofre do mesmo mal de nunca poder vir a ser governo sozinho e por isso são-lhe permitidas todas as irresponsabilidades; e
  • Todos os outros movimentos que surgiram desde o inicio do ano e onde se incluem os movimentos Melhor é Possivel e Movimento Mérito e Sociedade, de onde não me parece que venha a ter problemas.

Ao seu lado, na sua própria casa:

  • A contestação de Luis Filipe Meneses, o inevitável inimigo interno e que continua a contar com as espingardas de todos aqueles que gostariam de ver o líder do seu partido comportar-se como se comportam o líder o Bloco de Esquerda e do CDS-Partido Popular;
  • A corrosiva participação de Pacheco Pereira, que é o Manuel Alegre do PSD;
  • A critica de Marcelo Rebelo de Sousa, que sempre vai dando uma no cravo outra na ferradura, e que acossou a dama do seu canto para a ribalta onde brilha menos; e
  • A oposição em surdina do Pedro Passos Coelho que leva atrás de si todos os que acham que não basta ter medidas, há que ter imagem para as apresentar ou mesmo vender.

O meu entendimento é que o PSD não têm a iniciativa pela circunstancia de se encontrar na oposição e a sua líder têm mais Brutus que Delfins. Para Manuela Ferreira Leite, eliminar da corte qualquer um dos seus populares contestatários, poderia ser já como tirar a cabeça de fora de água para respirar um pouco entre cada braçada, face ao trabalho que estes lhe têm dado.

A possibilidade de Manuela Ferreira Leite propor Pedro Passos Coelho como cabeça de lista do PSD às eleições europeias foi avançada por Marcelo Rebelo de Sousa na rúbrica deste passado domingo, mas foi entendida por alguns como sendo uma maneira de ele próprio se oferecer para o papel, algo que é bastante rebuscado, acabando ainda assim por surtir os efeitos já vistos na Internet.

Vamos esperar.